Aqui onde moro com a minha família é possível ver bem apenas o nascer do sol, preenchendo as madrugadas de insônia com o lembrete de que um novo dia está chegando com outras cores e perspectivas.
Porém, perto do final do ano, o entardecer resolve se revelar mais também: pequenos vestígios do pôr do sol invadem as frestas da janela da cozinha, pintando o piso e os azulejos da parede todos de dourado por breves minutos. Tudo ganha uma outra cor, a pele, o fogão, a louça, e é quase como se virasse um novo lugar por um instante.
Um espaço-tempo que se despede quase da mesma forma que surge. De repente. Captar os desenhos de luz e sombra, exercitando um olhar mais atento para o presente, é abraçar a efemeridade das pequenezas que não podem passar despercebidas, como uma oração ao tempo. João Guimarães Rosa já dizia, “Deus está nos detalhes”.
Usar a câmera analógica tem me ajudado bastante a dar mais importância às pequenezas do cotidiano, por funcionar no caminho inverso à pressa das horas, e meu coração sempre bate mais feliz quando começo um novo filme (e especialmente quando o envio para revelar os registros).
Essas imagens foram feitas na Olympus Trip 35, com o filme P&B Praça do Ferreira, do @lab8oito, e a revelação e digitalização também foram feitas nesse mesmo laboratório.
Quais são as pequenas que têm deixado a sua rotina mais bonita? Quando a gente se permite ver para além do enxergar, novos detalhes e cores se mostram. Obrigada por me acompanhar por aqui!
Até logo, e se cuida.