Minha mãe sempre conta que eu chorava dizendo que não queria crescer quando ainda era criança. Sempre dá vontade de rir pelo jeito que ela narra a situação, mas eu realmente tinha medo da tal vida adulta quando olhava a situação das pessoas mais velhas ao meu redor. Isso porque elas quase nunca tinham tempo pra brincar, viviam de um lado para outro, sempre pareciam ter muitas coisas pra fazer e preocupações na cabeça, e eu não conseguia imaginar aquela vida pra mim.
Provavelmente a mini Priscilla tinha a síndrome do Peter Pan e não sabia, né, mas a verdade é que eu só queria aproveitar ao máximo a infância e não deixar nunca que os problemas ou as dificuldades fossem maiores do que a vida em si. Enfim, a realidade sempre aparece, e quando ela chegou de verdade, com as oito horas diárias (ou mais) de trabalho na rotina CLT, eu fiquei sem saber o que fazer, deixei hobbies pra trás e alguns pedaços de quem eu costumava ser também
Hoje tenho pensado sobre como as coisas vão tomando um rumo rápido e até incalculável enquanto a gente pensa o que pode fazer para que a caminhada seja mais leve. Afinal, qual foi a última vez que você se permitiu viver algo pela primeira vez? E o que mais você gostava de fazer na infância? Essas perguntas podem nos levar a lembranças afetivas ou até despertar novas possibilidades que estavam guardadas em nosso interior, gerando outros modos de ver não somente o que está por dentro, mas também o que nos rodeia.
Estou cada vez mais pertinho de completar 30 anos, e essa idade é vista por muitas pessoas como um período em que já é preciso ter mais estabilidade em diversos setores, o que já foi conversa para algumas sessões de terapia (alô, retorno de saturno). Porém, como encontrar resposta em um padrão generalizado se cada pessoa tem um repertório de experiências tão diferentes?
Viver é um caminho de infinitos aprendizados e descobertas: não há uma idade definida para “passar de fase” nem há o porquê de comparar o seu crescimento com o de outras pessoas, já que cada uma está trilhando o seu próprio caminho e só podemos ser melhores do que fomos antes. Não teria graça se fosse tudo igual.
Eu não sou como a Priscilla de 13 anos — que usava uma franja cobrindo os olhos, passava lápis preto sem se preocupar se ia borrar, desenhava na hora da aula, ouvia blink 182 de dia e fresno à noite etc. — queria ou imaginava, mas aqui estou eu, equilibrando alguns pratinhos entre o mestrado e a vida de freelancer em redação e produção de conteúdo, e também tentando perder o receio de compartilhar as coisas que escrevo, penso e sinto.
A vida é meio que isso, ela não acontece como a gente imagina, mas acaba rendendo bem mais do que a nossa imaginação, exatamente pelos imprevistos, pelo que está no meio do caminho, por nos levar para outros lugares e fazer com que a gente descubra mais sobre o nosso interior para que, assim, a caminhada continue.
Que não esqueçamos que, diante de tanto malabarismo, tarefas, deslocamentos, boletos (cringe) e outras questões, a vida adulta também é um lugar para lembrarmos de ser quem somos, sonhar, esboçar outras rotas, abraçar o que já passou, aprender mais e se permitir viver as surpresas, mudanças, incertezas e experiências que estão por vir.
Dançar entre ciclos e mudanças é entender que o caminho não é feito só de “andar pra frente” — e que dar alguns passos para trás também não é necessariamente deixar de ter avanços — mas de aprender mais sobre o que está ao redor e, especialmente, sobre o que está no interior (e aprender a olhar isso tudo com mais carinho e autocompaixão). A vida adulta não é um fim, mas um processo, que envolve recomeços e que está sempre em movimento.
E aí, vamos nos permitir recomeçar a cada manhã? Obrigada por me acompanhar por aqui!
Se cuida. 💗