Os textos híbridos de Letrux, na obra Tudo que já nadei: ressaca, quebramar e marolinhas, abordam a questão do mar como uma forma de encarar a vida, mergulhando em questões profundas e também brincando com a textura das ondas e da areia. Letrux livro nos convida a explorar novos nados, abraçar a força das nossas braçadas e admirar outras perspectivas sobre a vida e a rotina debaixo d’água.
Nessa coletânea de textões ressaca, poemas quebramar e micropoemas marolinha, Letrux livro escreve como quem mergulha dentro de si e nos convida a fazer o mesmo. A obra publicada pela Editora Planeta, em 2021, foi lançada enquanto vivíamos um vai e vem de dúvidas, incertezas e dores na pandemia de Covid-19 em meio a negações e desmontes do governo em várias áreas do país.
Apesar dos constantes mergulhos da autora dentro de um oceano instável de pensamentos e sensações, Letrux não desaparece entre eles. Pelo contrário, a cada nado em águas rasas ou profundas, ela explora mais o seu interior e espalha outros modos de ver o mundo ao seu redor. Olhar a vida sob águas turvas, muitas vezes, pode nos ajudar a enxergar melhor acima d´água.
Conhecer o livro Letrux é como submergir em outras possibilidades de palavras, imagens e perspectivas, meditar, expandir o fôlego e respirar com o desejo de viver de novo junto ao cheiro do sal, das ondas e da terra molhada. Neste post, reuni algumas das minhas impressões sobre a leitura de Letrux livro. Espero que você goste!
Tudo que já nadei ressaca quebramar e marolinhas
Tudo que já nadei (Letrux livro), reúne crônicas, contos e poemas da cantora, escritora e atriz Letícia Novaes, e é dividido em três partes: Ressaca, Quebra-mar e Marolinhas. Quando ouvimos as músicas de Letrux, conseguimos perceber o jeito divertido, informal e descontraído que ela usa para falar sobre sentimentos profundos, e é interessante ver como ela coloca esse tom de voz em seus textos.
O livro apresenta histórias curtas, crônicas e poemas que parecem pequenos fragmentos de um diário íntimo da cantora, escritos de forma única e extremamente pessoal, o que faz com que a leitura pareça uma conversa bastante próxima e transparente. Em seus textos, Letícia fala sobre a vida das mulheres, os percalços e as coisas boas de relacionamentos, a rotina, a efemeridade da vida, a natureza e, especialmente, o mar.
Letrux livro: uma conversa profunda
Letrux aborda vários temas, mas não nos ancora em um único lugar. Ela nos convida e mergulhar junto em mares revoltos, a sentir a espuma das ondas suaves e a continuar colocando os pés na água, experimentando a textura da areia e o cheiro do oceano.
Cada página é um novo mergulho e nunca sabemos como vamos sair de cada uma delas, mas com certeza alguma textura diferente será notada nos cabelos, no gosto da boca, nas reviravoltas do estômago ou dentro do coração. Ao longo das palavras, Letrux se permite das saltos para encontrar a si, gerar identificações com quem lê seus escritos e proporcionar novos fluxos em nossas percepções sobre a vida, o amor, a rotina e nós mesmas.
Tudo que já nadei: prosa e poesia em ondas
Na prosa e poesia de Letrux, o verbo ser se confunde com o verbo nadar, provocando não só a vontade de mergulhar no mar de fora, mas também no dentro.
Pela forma divertida com que isso é apresentado em sua escrita, podemos pensar que ainda estamos na beira da praia, no raso das ondas, em completa segurança e calmaria, mas logo depois nos vemos imersos no fundo do mar, tentando aprender a respirar para ir ainda mais longe, atravessar as águas, voltar para a areia e depois ter a oportunidade de nos arriscar novamente.
No livro Tudo que já nadei, entendemos que a poesia e o mar, assim como a vida, envolvem riscos que valem a pena nadar (sincronizado, livre e outros estilos).
LÍQUIDO K) O trajeto da lágrima é misterioso. Ora cai no seio, ora cai no umbigo. Outro dia foi parar no ouvido. Na boca lembra mar, pelo menos. Tem dia que não cai. Pior trajeto. Pelo mais.
p. 51
Ressaca, quebra-mar e marolinhas
O hibridismo presente nos textos de Letrux Livro, que misturam contos, crônicas e poemas, é como uma onda, ora leve, ora mais intensa, que quebra no mar e no corpo de quem lê o livro, acompanhando o vai e vem da praia.
Durante a leitura, também podemos ter acesso a diversas menções, como a poetisa Adília Lopes, a cantora Fiona Apple e até o astronauta Iuri Gagarin. Também vemos várias referências ao Rio de Janeiro, à forma de falar nas redes sociais (com o uso de emojis descritos), ao governo insolente, à pandemia de Covid-19 e à difícil situação de ver várias pessoas morrendo enquanto outras saem para comprar presentes.
Letrux livro: o corpo que percorre o oceano
No Letrux livro, o corpo que mergulha no mar não é apenas físico e emocional, mas também político, cultural e artístico. Em sua escrita autobiográfica, Letrux escreve em primeira pessoa e traz para seus textos diversos discussões e angústias contemporâneas, feito quem observa tudo ao seu redor e também se coloca nesse cenário.
O elemento água é encontrado em vários líquidos para além do mar, inundando os momentos de lágrimas, vazios, alegrias, surpresas e sonhos.
Ao situar-se em um período pandêmico e um governo negacionista, Letrux escreve sobre o medo do horror e da morte, mas também nos lembra que há sempre o mar e a arte para nos libertar daquilo que nos priva e, assim, ter a condição de nos aventurar em novos mergulhos na linguagem, nas imagens, memórias, músicas, sensações e tudo o que podemos nadar, ser, registrar e sonhar.
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