Se tem algo que eu sempre gostei foi de ter materiais de papelaria por perto. Então canetas e cadernos são alguns dos principais itens que me fazem companhia desde os momentos em que estava cheia de ideias para rabiscar até aqueles em que surgia a dificuldade de acessar os meus pensamentos. De lá pra cá, descobri que o termo escrita terapêutica tem tudo a ver com isso.
Colocar as palavras no papel é uma forma de iluminar pensamentos e sensações, entender o que nem sempre consigo verbalizar, me comunicar com outras pessoas, registrar e visitar memórias, ter um momento de conexão comigo e imaginar novos tempos e espaços possíveis. Apesar de o termo escrita terapêutica suscitar algumas dúvidas, a prática pode ser bastante simples e proporcionar diversos benefícios para sua saúde emocional, mental e física.
Nesse período em que recebemos tantas informações e notificações diariamente, qual foi a última vez que você se permitiu separar um tempo para trabalhar a sua criatividade e escrever para si?
Encontrar formas de se reconectar por meio das palavras e descobrir os benefícios da escrita terapêutica, sem se importar com o que outras pessoas podem pensar, pode ajudar você a se conhecer mais e expandir suas ideias sobre autocuidado.
Como praticar a escrita terapêutica na rotina?
A escrita terapêutica pode ser realizada de forma simples e, assim, se tornar um hábito. Por meio dessa prática, é possível se conhecer mais, colocar no papel o que tem transbordado nas sensações e, ainda, ampliar seus pontos de vista sobre o que acontece ao redor.
Há mais de 8 anos atuo como produtora de conteúdo no mercado, atendendo empresas de diversos segmentos, e sou mestranda em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará desde 2020. Dessa forma, escrever é uma tarefa que pratico diariamente, mas também sinto a necessidade de ir para além da escrita profissional, técnica e acadêmica para utilizar as palavras de forma mais livre e fluida, e a escrita terapêutica tem feito bastante diferença na minha caminhada.
Nesse sentido, escrever pra mim é ter um tempo para observar o que se passa aqui dentro, traçando caminhos para aprender mais sobre quem sou, dialogar com as histórias de outras pessoas e entender a vida que acontece lá fora. Não é à toa que muitas pessoas falam sobre a escrita como processo terapêutico.
Durante os períodos de lockdown e aumento de casos de Covid-19, a escrita foi uma grande companheira por aqui. Com isso, descobri o quanto colocar palavras no papel, sem muitas cobranças, pode aliviar momentos de estresse e ansiedade, fortalecendo sua saúde mental. Pensando nesse processo, resolvi reunir algumas dicas de exercícios de escrita terapêutica, sensível e fluida para ajudar você a aplicar essa prática no seu dia a dia.
Escreva cartas para si
Sabe aqueles papéis de carta que a gente colecionava lá nos anos 2000? Normalmente a gente só guardava para colecionar ou entregar algumas palavras coloridas a alguém querido, não é? Por que esse alguém não pode ser você hoje?
Se você quer aplicar a escrita terapêutica de forma mais livre, mas ainda não sabe por onde começar, uma ótima escolha é fazer cartas para você mesma (sua versão do passado, presente e futuro agradecem). O melhor é que para fazer isso, não é preciso ter folha bonita, e pode ser feito tanto pelo papel quanto pelo computador ou celular, não tem um tamanho ou um estilo “certo” ou “errado”. Escrever cartas pode (e deve) ser ridículo.
Vale rabiscar o que você tem passado, pensado, vivido, sentido, lido, enfim, compartilhar suas experiências ou registrar o que antes você não sabia para quem você já foi ou deseja ser. Há uns três ou quatro anos, por indicação de um amigo, descobri um site que facilita a escrita de cartas para si. O nome do site é Future Me e, por lá, você pode escolher uma data para receber a carta que escreveu no seu próprio e-mail.
Eu criei o hábito de fazer isso, colocando diferentes datas e períodos para as cartas que escrevo, e é sempre uma grata surpresa receber o que escrevi, porque normalmente esqueço do dia/mês que programei o envio. E é muito bom ver como as coisas vão mudando com o passar do tempo, tomando caminhos que a gente não imaginava e, assim, abrindo outras janelas. Escrever cartas é um ótimo primeiro passo para iniciar sua jornada na escrita terapêutica, vale a pena tentar.
Comece a escrever um diário
Outro jeito prático de fazer a escrita terapêutica se tornar um hábito é escrever um diário. Escrever sobre si é um modo de se entender, dar sentido às experiências vivenciadas, registrar os dias e imaginar um futuro possível, desenhando outras narrativas.
Assim como o papel de carta, as folhas de um diário também são um ótimo espaço para exercer a prática da escrita terapêutica e íntima, estar no presente com um olhar mais atento e guardar suas memórias.
Algumas pessoas ficam em dúvida sobre como escrever um diário, mas o mais importante é fazer com que esse seja um momento só seu, sem cobranças nem regras. O diário não precisa ter um mínimo ideal de páginas por dia e não precisa ser escrito todas as semanas.
Você pode começar por textos de observação sobre o que está à sua volta, os sons que escuta, o que pode ver pela janela, o cotidiano, como tem passado os seus dias, o que tem aprendido nos últimos meses, enfim.
Por meio desse exercício, ao longo do tempo, a escrita terapêutica e afetiva começará a ser realizada com mais fluidez e facilidade, feito mergulho nas emoções que se vestem de palavras para dar cor ao que nem sempre pode ser visto a olho nu. Alguns dos principais benefícios de saber a importância de escrever sobre os sentimentos e começar um diário, são:
- ter um espaço de refúgio;
- aprofundar o contato com suas emoções e seus pensamentos;
- ampliar os cuidados com a sua saúde mental e criatividade;
- dialogar com as suas experiências;
- aumentar a sua aproximação com as palavras;
- descobrir novas percepções sobre si e as outras pessoas.
Adote o hábito das páginas matinais
Fazer páginas matinais é um dos exercícios de escrita terapêutica propostos por Julia Cameron, em seu livro O caminho do artista. Essa prática consiste em separar um tempo, depois de acordar, para escrever o que vier à mente sem se preocupar com a ordem ou o sentido das coisas.
Apesar de o exercício recomendar que essa escrita seja realizada logo pela manhã e em três páginas de um caderno, eu já o fiz em outros horários e com menos (ou mais) páginas também, e me auxiliou bastante a aliviar a mente-alma. Vale a pena identificar qual horário faz mais sentido para você, e lembrar que o período do dia e a quantidade de páginas podem variar.
Eu não faço as páginas matinais diariamente, mas normalmente recorro a esse recurso quando estou precisando liberar espaço aqui dentro. Escrever de forma livre, sem julgamentos, é quase como meditar e, segundo Julia Cameron, a prática de fazer páginas matinais já ajudou diversos autores a desbloquear a criatividade.
Virginia Woolf exercitava o hábito de observar o mundo ao seu redor e escrever as suas percepções no dia a dia antes mesmo de ser reconhecida pelo seu trabalho como escritora:
(…) Mas o único uso deste caderno é que ele serve como um caderno de esboços; assim como um artista preenche suas páginas com pedaços e fragmentos, estudos de drapejamento – pernas, braços e narizes – úteis para ele sem dúvida, mas sem significado para ninguém mais – então eu pego minha caneta e traço aqui quaisquer formas que eu tenha na cabeça.
(WOOLF, Diário de 1903)
Você tem vontade de começar a utilizar a escrita terapêutica mais em meio à rotina, ou já pratica esse hábito e sente os benefícios por aí? Espero ter inspirado você a se aventurar com as palavras também. Prepara um chazinho ou um café quentinho, coloca uma música que você gosta, acende uma vela, abre um dos seus cadernos e aproveita. 🙂
Obrigada por me acompanhar por aqui e até mais!
Dúvidas frequentes sobre a escrita terapêutica
Como fazer a escrita terapêutica?
O primeiro passo é separar um caderno específico para essa prática. Escreva de forma livre e sem julgamentos tudo o que vier à mente, como se estivesse conversando com alguém que você ama e confia (que nesse caso é você mesmo). Você pode escrever sobre pequenos detalhes do dia a dia, suas sensações, percepções sobre coisas que estão acontecendo ao redor, notas mentais e até fazer colagens com coisinhas da rotina, como embalagens, recados, flores, fotos e notas fiscais. Deixe a criatividade rolar!
Como escrever para aliviar a ansiedade?
As principais dicas são: escolha um lugar aconchegante para se sentir bem nesse momento, pegue um caderninho e escreva tudo o que estiver pensando. Você também pode escrever frases acolhedoras, como “tudo está bem”, “tudo vai melhorar”, “eu me perdoo e me amo”. Além disso, também pode listar coisas que pode fazer para se sentir melhor nos dias em que está se sentindo triste ou ansioso(a).
Por que escrever os pensamentos?
Escrever o que você está pensando ou sentindo é uma ótima forma de organizar as ideias e equilibrar mente. Então você pode separar um tempo para praticar a escrita terapêutica, sem se preocupar em fazer um texto perfeito e sem autocríticas. Simplesmente pegue um caderno para refletir sobre a sua vida, sua rotina e sobre si. Ao praticar essa atividade, com o tempo, você vai sentir o quanto as palavras podem ajudar você!
Que post maravilhoso!!!! Eu amei, amei, amei. Se me permite vou compartilhar pq achei sensacional mesmo. As pessoas não tem noção de como a escrita pode ajudar na melhora da saúde mental. Eu comecei há algum tempo com a escrita matinal e tem sido ótimo. Minhas manhãs sempre foram péssimas, acordo muito ansiosa, e agora, saber que a primeira coisa da manhã será sentar na minha cadeira de praia, tomando um solzinho e um café e escrever minhas linhas, já faz as primeiras horas do dia serem melhores.
Flávia, muito obrigada, fiquei feliz demais por saber que você gostou <3 escrever as páginas pela manhã realmente deixa a cabeça mais leve, né? amei o jeito que você mantém o hábito, sentando na cadeira de praia com sol, café e caderno 🫀😍 beijos
amei o post, pri! já enviei uma carta pra mim mesma (em 2015) pra ler em 10 anos, foi por esse site que colocou. nem lembro o que escrevi nela, mas tô curiosa pra que ela chegue haha. já fiz páginas matinais por algum tempo, mas acabo sempre largando por preguiça. mas quando a estafa mental bate e preciso descarregar, sempre acabo pegando de novo pra fazer, é um exercício maravilhoso mesmo.
caramba, K, pra ler em 2025 (!!!) que legal, vai ser uma surpresa mesmo pra ti qnd chegar, né 💖💖 tb sou assim com páginas matinais, não consigo fazer todos os dias, mas quando tô ansiosa e faço, é muito bom :’) brigada pela leitura e visita! um beijo e uma ótima semana por aí 🌻😍
Uau! Passei só pra comentar como essa ideia de escrever cartas pra si mesmo nos belíssimos papéis de carta é sensacional! Páginas em branco me dão uma sensação boa e uma enorme vontade de preenchê-las. Como teria sido especial ter guardado todas aquelas folhas lindinhas com mensagens especiais pra mim mesma. Ótimo post! Bjsss
aaaa muito obrigada, Brooks, espero que você consiga separar páginas em branco (físicas ou online) pra escrever cartas pra si <3 um beijo!
Que post maravilhoso! Eu amo demais a escrita terapêutica. Me ajuda bastante.
bjs
Jeniffer, muito feliz por saber que você também tem essa prática <3 um beijo e um ótimo agosto por aí!
Amei esse post! Estou voltando a praticar a escrita terapêutica e nem tinha considerado escrever cartas para mim mesma. Vou escrever algumas 🙂
Obrigada pelas dicas <3
Natália, obrigada! :’) desejo uma escrita transbordante pra você <3 um beijo!
Eu acho maravilhoso esse hábito de escrever, ainda mais se for de maneira descompromissada, terapêutica mesmo. Adorei a ideia do Future Me, bacana demais. Acho que vou me aventurar por lá qualquer hora dessas. 🙂
Eu trabalhei por muitos anos escrevendo, então perdi um pouco do hábito de escrever por “diversão”. Preciso retomar, sei que me faz um bem danado. Beijos :*
Não Me Mande Flores ♥
Com certeza, você vai amar receber as cartas que escreveu, Camila :’) O Future me é muito legal pra isso, e é um ótimo estímulo pra voltar a escrever de forma mais leve <3 um beijo!
Sensacional o post, Priscilla! Durante muitos anos pratiquei a escrita terapêutica. Não conseguiria avaliar o quanto essa prática lançou luzes no meu caminho e me ajudou a avançar. Hoje já não escrevo tanto, mas papel, canetas, lápis, tintas (você sabe) sempre estão por perto e se tornam recursos para expressar o que me vai por dentro. Itens de papelaria sempre estiveram e sempre estarão no topo da lista das minhas preferências 🥰 Amo termos isso em comum!
e as luzes estão todas aí em ti, Andrea :’) obrigada por sempre me inspirar a amar o universo de papéis, lápis e cores <3
Eu gosto muito de escrever. É uma atividade muito prazerosa pra mim. Gostaria de escrever muito mais mas às vezes a rotina do dia-a-dia nos leva a priorizar outras atividades. Gostei muito da sua dica de escrever cartas para você mesmo no futuro. Vou fazer isso. Deve ser bem interessante. ^^
Beijos
que legal, Débora, fiquei muito feliz com o seu comentário! o processo de incluir a escrita no dia a dia pode começar aos poucos, e fazer cartas pra si é um ótimo primeiro passo <3 um beijo!